A Perda Auditiva (PA) e deterioração cognitiva são duas entidades distintas relacionadas à idade. Porém, em ambos os casos, há alterações consideradas normais no processo de envelhecimento. Mas, também, alterações consideradas patológicas.
Muitos estudos mostram que há uma relação entre a Perda Auditiva e uma maior incidência de Síndromes Demenciais (SD), entre elas a Doença de Alzheimer (DA). Isso acontece tanto nos casos relacionados à idade quanto aos patológicos. E esse risco aumenta com o aumento da gravidade da Perda Auditiva.
Além disso, estudos apontam que aqueles pacientes já diagnosticados com alguma Síndrome Demencial experimentam um declínio cognitivo mais acelerado. Ou seja, a doença de Alzheimer ou a síndrome demencial em questão evolui mais rápido em pacientes que não escutam bem.
As principais hipóteses para essa associação são:
- A exaustão da reserva cognitiva,
- A diminuição da chegada de estímulos ambientais ao cérebro,
- O isolamento social,
- A diminuição do engajamento em atividades de lazer ou
- Uma combinação desses fatores.
A reserva cognitiva reflete as diferenças individuais na maneira como se usa as vias neurais para compensar uma neuropatologia. Alguns estudos mostram que, com a dificuldade da percepção sensorial da audição, mais recursos neurais são usados para o processamento da percepção auditiva. Isso em detrimento de outros processos cognitivos, como a memória de trabalho por exemplo. Com tal realocação de recursos, há uma depleção desses. Assim, levando a demência a ser expressa clinicamente de maneira mais precoce.
Dificuldades em comunicação causadas pela PA podem também resultar em isolamento social em idosos. E estudos mostram associação entre uma atividade social baixa e demência. Também sabemos que atividades de lazer rotineiras diminuem o risco de SD.
A última hipótese, confirmada por estudos em animais, mostra que estímulos ambientais, entre eles o som, podem reduzir os níveis de Beta-amiloides. Estas são as moléculas que se acumulam no cérebro em doenças como a DA. Por outro lado, as placas senis e os emaranhados neurofibrilares, que são marcos da DA, também podem ser encontrados nas vias auditivas neurais. Ou seja, mostrando também que podem ser correlacionados.
Indivíduos com Síndromes Demenciais confirmadas também podem passar a ter Perda Auditiva.
O que pode acontecer tanto por mecanismos periféricos e relacionados à idade, como por disfunção do processamento dos sinais auditivos. Todas essas hipóteses não são mutuamente exclusivas e podem todas contribuir para deterioração cognitiva.
Portanto, tendo em mente que muitas causas de PA são preveníveis e a correção mesmo que parcial da audição pode ajudar a diminuir a progressão da perda cognitiva, é importante a procura de ajuda profissional caso haja sintomas de Perda Auditiva, como:
- Solicitação frequente para que se repita o que é dito,
- Dificuldade de escutar aparelhos eletrônicos,
- Dificuldade de acompanhar conversas em grupo,
- Escuta de zumbido e intolerância à sons intenso,
- Dificuldade de identificar de onde vem os sons,
- Dificuldade de se comunicar em lugares ruidosos,
- Isolamento social,
- Depressão
Ao sinal de início desses sintomas, há que se diferenciar entre as alterações típicas da idade dos quadros patológicos. Dentre estes, havendo um quadro reversível, é primordial que se busque o tratamento correto. Desta maneira evitamos as consequências irreversíveis como a Perda Auditiva Permanente ou o aparecimento ou aceleramento de alguma SD.
O Autor:
Alexandre Monferrari é Médico formado pela UNICAMP, com Pós-Graduação em Geriatria e Gerontologia pela FMJ. Atende em Jundiaí na Clínica Tertulia (11 3964 5888/ 11 93090 5888, contato@clinicatertulia.com.br).
Referências:
1- LIN, F. et al, Hearing Loss and Incident Dementia Arch Neurolog. 2011;68(2):214-220
2- GURGEL, L. et al., Relationship of Hearing loss and Dementia: a Prospective, population-based Study, Otol. Neurotol. 2014 June; 35(5): 775-781
3- FORD, A. et al., Hearing loss and the risk of dementia in later life, Maturitas June 2018; 112: 1-11