Há uma nova linha de pesquisa que está associando o sistema imunológico do cérebro à incidência da Doença de Alzheimer.
No início do século XX, o psiquiatra alemão Alois Alzheimer foi o primeiro a descrever os sintomas de uma patologia que causa demência.
Naquela época, ele analisou sob o microscópio o cérebro de uma mulher cujo declínio cognitivo ele havia testemunhado. Viu, e ordenadamente desenhou, placas acumuladas. Agora sabemos que são as conhecidas placas da proteína β amilóide. Estas placas aparecem juntamente com emaranhados de uma proteína, chamada tau. Juntos, as placas e os emaranhados em excesso são a assinatura da doença.
Nas primeiras representações do tecido cerebral afetado, Dr. Alzheimer também esboçou desenhos de microgliócitos. É um tipo de célula do sistema imunológico do cérebro, que aparecia aninhada próxima aos neurônios. “O próprio Alzheimer notou as células e desenhou-as em número abundante ao lado dos neurônios”, diz o neuro-cientista Michael Heneka.
As ligações entre inflamação e a doença de Alzheimer começaram a ser discutidas em meados da década de 1990. Heneka, ficou intrigado com algumas observações epidemiológicas mostrando que as pessoas que receberam alguns antinflamatórios (para tratar a artrite reumatóide, por exemplo) pareciam ter um risco menor de desenvolver a doença de Alzheimer do que a população em geral. Naquela época, descobriu-se que os microgliócitos se reúnem em torno de placas e áreas de degeneração cerebral. No entanto, a maioria dos cientistas assumiu que essas observações refletiam uma resposta passiva ao dano tecidual.
Estas células do sistema imunológico, chamadas microgliócitos ou microglias, têm duas funções principais. Cuidam da saúde geral dos neurônios e suas sinapses (junções entre os neurônios, onde elas se comunicam umas com as outras). E patrulham o cérebro, procurando por ameaças e problemas.
Quando detectam uma molécula infecciosa ou perigosa, como o β -amilóide ou detritos de células danificadas, elas se tornam ativas e sinalizam para outras microglias que se juntem a elas em um esforço de limpeza. Certas proteínas microgliais se reúnem em grandes complexos chamados inflamassomas (um componente chave do inflamassoma é a proteína NLRP3), que produzem sinais de limpeza na forma de moléculas imunes ativadas. Inflamassomas geralmente desaparecem quando o trabalho é terminado. Mas no cérebro das pessoas com Alzheimer, as moléculas do inflamassoma parece permanecer ativas, continuando a bombear moléculas inflamatórias. Assim, não conseguem limpar adequadamente a região.
A microglia pode estar envolvida em outras doenças neurodegenerativas. Descobertas semelhantes foram observadas em modelos de esclerose lateral amiotrófica (ELA) e doença de Parkinson. Além disso, pesquisas de outros cientistas sugerem que elas poderiam estar implicadas ainda mais amplamente em distúrbios cerebrais, como o raro distúrbio do neurodesenvolvimento conhecido como síndrome de Rett.
As descobertas relacionadas às microglias e à proteína NLRP3 foram confirmadas em pesquisas com ratos e análise de tecido cerebral humano, post-mortem. Ainda há um longo caminho até o início de possíveis testes clínicos e desenvolvimento de novas drogas. Mas, esta pesquisa não deixa de ser mais uma esperança.
Fonte: Revista Nature.