A Doença de Alzheimer (DA) é a doença neurodegenerativa mais comum e com a patogênese mais complexa.
Uma vez que não tem cura, o melhor tratamento são terapias que retardam a progressão dos sintomas e preservam o máximo possível da função cognitiva do paciente.
O diagnóstico precoce é fundamental para a medicação oportuna e para a melhoria do prognóstico. Ou seja, quanto mais cedo identificar o curso da doença e iniciar tratamento, maior a eficácia na preservação da função residual do paciente – além de desacelerar o início e a progressão dos sintomas de demência.
Atualmente esse diagnóstico é baseado na observação de sinais e sintomas clínicos. Também em testes da função neurocognitiva e exames de alterações nos biomarcadores promotores (que podem refletir os estágios iniciais da doença).
Os métodos estabelecidos incluem imagens da função cerebral baseadas em tomografia por emissão de pósitrons (PET) e análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), que detecta a deposição de biomarcadores de DA, como proteínas β-amiloide e tau no cérebro.
Essas técnicas são particularmente limitadas como testes de diagnóstico de primeira linha da Doença de Alzheimer, uma vez que podem ter efeitos colaterais adversos. Além disso, requerem intervenções invasivas como por exemplo: injeções de traçadores fluoretados (demorados e caros), exposição à radiação e punção lombar (procedimento doloroso e desconfortável).
Portanto, o desenvolvimento de biossensores que possam detectar de forma sensível e seletiva os biomarcadores da Doença de Alzheimer, melhorariam a confiança clínica no diagnóstico , enquanto rastreariam rapidamente as alterações ao longo do tempo. E melhor, de maneira não invasiva.
Fluidos corporais, como saliva, suor, urina e lágrimas são alternativas não invasivas para diagnóstico clínico e exames de rotina. O artigo Amplified Fluorogenic Immunoassay for Early Diagnosis and Monitoring of Alzheimer’s Disease from Tear Fluid (Nature, 09/12/23) sugere que o fluido lacrimal poderia ser utilizado para o diagnóstico precoce e o monitoramento da DA.
Seria como uma biópsia líquida podendo ajudar no planejamento de cuidados de longo prazo, melhoria na eficiência dos ensaios clínicos e aceleraria o desenvolvimento terapêutico para a doença.
Hoje sabemos que o fluido lacrimal está intimamente associado a certos distúrbios neurológicos, incluindo Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson e Esclerose Múltipla.
As lágrimas são ricas em biomoléculas solúveis, incluindo proteínas, peptídeos, metabólitos e ácidos nucléicos, e contêm muito pouca albumina, que normalmente é encontrada em grandes quantidades no sangue. Assim, não requerem procedimentos de filtração de proteínas ou centrifugação e são menos propensas a problemas de reatividade.
Ao contrário da coleta de sangue ou LCR, o fluido lacrimal pode ser coletado de forma não invasiva, tornando-o um fluido econômico e relativamente fácil de administrar sem a necessidade da assistência de um profissional de saúde.
Além disso, foram relatadas correlações significativas entre os níveis de expressão de biomarcadores proteicos específicos (por exemplo, proteínas β-amiloide e tau) em lágrimas e o estágio de progressão da Doença de Alzheimer.