Idoso consumindo álcool.

Consumo de Álcool por Idosos: um Problema a ser abordado.

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Como qualquer outra instituição social, a família mudou. Passou por transformações significativas nas relações de convívios sociais. A participação das mulheres no mercado de trabalho teve um significativo aumento. O cuidado dos filhos passou a ser assumido por outras pessoas ou pela introdução das crianças, cada vez mais precocemente, em instituições educacionais. Nesse novo modelo, pais, filhos e avós quase não se veem. Os “espaços de convívio” reduziram-se aos finais de semana. E, muitas vezes nem a estes! Os compromissos estão cada vez maiores e as prioridades direcionam-se, muitas vezes, as questões profissionais e aos compromissos sociais.

Cuidar dos idosos tem se tornado uma “tarefa” cada vez mais difícil. Quer por falta de tempo, quer pelo que representa esse “cuidar”. Quer pelos desafios de dedicar-se a algo que requer o que o mundo moderno retirou de cena: paciência. (Vera Lúcia Valsecchi de Almeida no prefacio do livro: Intermediações Familiares Para Idosos Em Situação De Risco)

Essa falta de paciência e o imediatismo que desejamos para solucionar os desafios da vida têm trazido consequências importantes no manejo diário das relações familiares, profissionais e sociais. A velocidade para resolver problemas tem sido cada vez maior. Com isso estamos nos tornando cada vez mais distantes uns dos outros. Cada vez mais distantes de nós mesmos e das nossas dores e fragilidades. Temos pressa em sanar qualquer sofrimento e queremos nos anestesiar, para não sentirmos dor! Nenhum tipo de dor!

Nesse novo cenário, surge então o lançamento de artifícios para poder “curar” esses sofrimentos que são inerentes à existência humana. No alivio de alguns sofrimentos, muitos recorrem ao consumo do álcool ou medicamentos de uso controlado.

Podemos afirmar que o consumo de álcool, atualmente, no Brasil não tem sido destaque apenas entre os jovens. Os idosos tem requerido cuidadosa atenção para esse assunto.  Recentemente, o Instituto Datafolha publicou uma pesquisa que revelou que 9% dos idosos consomem bebidas alcoólicas diariamente. Número que evidencia um dado importante para elaboração de programas de saúde pública e assistência social ao idoso. O resultado revelou ainda que há predomínio da exposição ao consumo de álcool entre os homens. Também ocorre a associação do álcool ao cigarro e outros medicamentos de uso controlado. Muitas vezes o idoso faz uso destes medicamentos que têm potencializado os comprometimentos que o álcool pode ocasionar.

Outra consideração importante mencionada no estudo é que esse consumo não é verbalizado de maneira clara e verdadeira durante as consultas médicas. Muitos idosos afirmam consumir álcool esporadicamente e ter o controle total sobre a bebida. A recusa para o tratamento do alcoolismo tem sido muito evidenciada nos consultórios médicos. Assim, o acesso ao problema real fruto do consumo de álcool, tem sido de difícil abordagem. Diabetes descompensadas, picos hipertensivos, problemas gástricos, acelerações de processos demenciais ou perdas cognitivas precoces, agitação motora, confusão mental e agressividade podem estar  associadas  ao consumo de álcool em doses elevadas e diárias que merecem uma atenção especial.

A seguir algumas considerações para o enfreamento do problema com álcool:

  • Identifique as angustias e as reclamações dos idosos. Cuidado para não generalizar. Cada pessoa é única e tem seus desejos e sonhos como qualquer um. Tenha tempo de escuta e planeje ações conjuntas.
  • Atenção especial para os processos de aposentadoria, perda do emprego, ou perda de pessoas próximas e separações. Nessas situações, a não ocupação durante o horário do expediente que realizava, os questionamentos sobre a vida e qual seu objetivo de estar vivo, geram sentimentos de angústia, solidão e fracasso. Nesse cenário de muita insatisfação, o álcool passa a ser um grande aliado para o idoso enfrentar esse momento. O consumo pode ser gradativamente aumentando ocupando grande parte do tempo ocioso do idoso. Fique atento a mudanças de comportamentos frequentes e nas alterações clínicas. Proponha um acompanhamento efetivo e presente.
  • Abordar diretamente o consumo das bebidas, muitas vezes não resolve a questão. O grande desafio é ajudar o idoso a encontrar novos propósitos e novas formas de ser útil para as pessoas e para o meio em que vive. Vale a sugestão de fazer cursos, participar de associações e atividades relacionadas aos interesses que o idoso apresenta. Engajar o idoso em novos desafios pode trazer mais entusiasmo e alegria para o dia a dia. Voltar a trabalhar ou até mesmo encontrar um(a) novo(a) companheiro(a) são idéias bem-vindas. Assim, gradativamente, o consumo do álcool vai ficando secundário e a qualidadee o sentido da vida melhoram significativamente.

Referência bibliográfica: Jornal Folha de São Paulo.

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