O câncer de próstata é o segundo câncer mais frequente entre os homens. Atualmente no Brasil, tem uma mortalidade de 25%. Ou seja, 1 em cada 4 homens com a doença morre por causa dela. Isso porque 20% dos casos são descobertos em estágio avançado, quando as chances de cura são menores.
Desta maneira, as campanhas de conscientização e prevenção tornam-se mais importantes. É sabido que quanto antes se descobrir um câncer, maiores são as chances de cura. Por isso, foi criada a campanha “Novembro Azul” sobre o câncer de próstata, com o mesmo objetivo e logo após o “Outubro Rosa” que alerta sobre o câncer de mama.
“Rastreio” ou “rastreamento” é o nome que se dá à estratégia de detecção precoce, aplicada a uma população que ainda não apresenta sintomas. O principal exame do rastreio é o famoso teste de PSA (Prostate-Specific Antigens – antígenos específicos da próstata quando traduzimos para português) e suas frações laboratoriais, associados ao toque retal. Porém, o Rastreio é apenas um dos recursos usados na prevenção. Mas, devemos lembrar que medidas como evitar a obesidade, ter uma alimentação saudável e praticar atividades físicas também são atitudes preventivas.
Historicamente, o uso do PSA para o rastreio tinha uma indicação clara relativa ao câncer. O teste era feito com frequência determinada. Quando alterado, eram realizados procedimentos para comprovar a doença, como biópsias, ressonâncias e cirurgias. Entretanto, à luz de novos estudos, contatou-se que o uso indiscriminado do PSA apresentava problemas.
Os antígenos medidos através do PSA não aumentam exclusivamente com o câncer de próstata. Doenças como prostatite ou hiperplasia prostática benigna, muito frequentes após 50 anos, também resultam em maior produção de antígenos. O uso indiscriminado do PSA começou a levantar suspeitas da doença em grande número de pacientes que não a apresentam de fato. Com isso, são realizados procedimentos confirmatórios desnecessários, entre eles a biópsia. Essa técnica, na qual é retirado um fragmento da próstata através do reto, tem um risco de 1 a 2% de vir a necessitar de internação hospitalar por complicações, como infecções.
Mesmo quando temos um câncer de próstata de fato, 70% destes são de baixo grau, ou seja, pouco agressivos. Esses, muitas vezes respondem melhor ao tratamento não-cirúrgico do que cirúrgico.
Isso acontece pois frequentemente são doenças de evolução lenta, que nunca chegariam a representar problemas para o paciente. Realizando uma cirurgia sem que se haja um benefício claro, ficamos expostos unicamente às eventuais complicações. Dessas, citamos a incontinência urinária (perda do controle da urina), disfunção erétil. E, em idosos, até mesmo piora cognitiva (demências).
As orientações atuais para prevenção e tratamento de câncer de próstata compõem uma estratégia individualizada, direcionada conforme idade, raça e história familiar e que leva em conta riscos e benefícios. As diretrizes da Sociedade Brasileira de Urologia são:
- Homens acima de 50 anos devem procurar um profissional especializado para uma avaliação individualizada.
- Os de maior risco, que são os homens negros e os que tem parentes de primeiro grau com histórico de câncer de próstata, devem procurar um profissional aos 45 anos ou antes.
- O rastreio deve iniciar sempre após uma discussão esclarecida acerca de riscos e benefícios dos caminhos a serem seguidos.
- Em Geriatria, para homens acima de 70 anos, o rastreio é indicado quando há expectativa de vida maior que 10 anos.
Quanto ao Novembro Azul, conscientização e decisões críticas e informadas são sempre essenciais e necessárias. O grande mérito desta iniciativa é reduzir o preconceito que ainda teima em persistir em nossa sociedade acerca desta investigação que inclui o exame de toque retal.
Rastreio em clima de mutirão não é recomendado, nem leva à diminuição da mortalidade por câncer de próstata.
A recomendação é que se faça um acompanhamento com um médico, que deverá aplicar uma estratégia de prevenção individualizada e consciente. E que deverá ser praticada por pacientes e familiares não só em novembro, mas de janeiro a janeiro.
O Autor:
Alexandre Monferrari é Médico formado pela UNICAMP, com Pós-Graduação em Geriatria e Gerontologia pela FMJ. Atende em Jundiaí na clínica Tertulia (11 3964 5888/ 11 93090 5888, contato@clinicatertulia.com.br).